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Entenda o novo Ensino Médio anunciado pelo estado de São Paulo

A mudança curricular traz boas intenções, mas vem acompanhada de muitos desafios

Por Juliana Morales
6 ago 2020, 19h58
 (Getty Images/Reprodução)
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Na última segunda-feira (3), o governo de São Paulo anunciou a mudança curricular do Ensino Médio a partir do ano que vem. O estado é o primeiro do país a realizar as alterações determinadas pela lei do novo Ensino Médio, aprovada em 2017.

Segundo o governador João Doria, o novo currículo do Ensino Médio de São Paulo terá 12 opções de curso, que permitirão aos alunos a escolha da disciplina ou das disciplinas com as quais eles mais se identificam. “O objetivo é criar uma escola que dialogue com a realidade atual da juventude, que se adapte às necessidades dos estudantes e os prepare para viver em sociedade e enfrentar os desafios de um mercado de trabalho dinâmico”, disse Doria, em coletiva de imprensa.

O novo currículo paulista é formado por 3.150 horas, distribuídas em um período de três anos. Até então, o mínimo era de 2.400 horas distribuídas nos três anos de Ensino Médio. Do total, em São Paulo, 1.800 horas são destinadas à formação básica, que segue a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). As outras 1.350 são referentes aos itinerários formativos, que são a parte flexível do currículo, na qual os alunos podem escolher de acordo com suas preferências e objetivos.

Assim, o estudante poderá escolher até duas áreas de conhecimento da formação geral (linguagens, matemática, ciências da natureza e ciências humanas) ou da formação técnica e profissional.

As mudanças valem tanto para escolas públicas como particulares. O processo de construção do currículo começou em 2019 e, de acordo com o governo, foram ouvidos 140 mil estudantes e 18 mil professores. A previsão é de que novo sistema seja implementado progressivamente aos alunos do Ensino Médio, começando pela 1ª série em 2021. Em 2022, para os estudantes da 2º série, e consequentemente, para a 3ª série do Ensino Médio em 2023.

Reforma do Ensino Médio

A lei que estabeleceu a reforma do Ensino Médio foi aprovada em 2017, depois de muita discussão e polêmica. Ela definiu que as escolas devem passar a oferecer itinerários formativos para os estudantes optarem qual área se aprofundar. As opções deverão ser voltadas ao empreendedorismo, à investigação científica e à mediação e intervenção sociocultural. Essa parte de flexibilidade deve cumprir 40% do currículo.

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Os outros 60% do currículo correspondem à formação básica, como vimos. Ela foi definida em 2018, quando a Base Nacional Comum Curricular foi aprovada pelo Conselho Nacional de Educação. A BNCC estabeleceu as disciplinas obrigatórias e as regras, como a de que Matemática e Português são carga horária obrigatória nos três anos. Além disso, ficou definido que os currículos estaduais devem ser adaptados e implementados até o início das aulas de 2022. O governo de São Paulo optou por iniciar em 2021.

“Imaginando o Ensino Médio como um caminho, até então ele era uma mesma reta: entra no ponto A, sai no ponto B e todo mundo faz exatamente esse percurso. Com a reforma, o aluno começa em uma estrada comum, mas que tem uma série de saídas e ele que escolhe a porta”, explica Henrique Braga, coordenador educacional do Sistema Anglo.

Para Braga, um ponto positivo dessas mudanças propostas, além da tentativa de chamar maior atenção e interesse dos alunos, é que elas acompanham a tendência da geração atual da flexibilidade. Os jovens estão acostumados a terem a opção de escolher uma série na Netflix e assistir no momento que desejar, por exemplo.

No entanto, também há um peso maior na decisão, já que a possibilidade de itinerários antecipa a escolha, que tradicionalmente era feita após o fim da educação básica, sobre qual área seguir. O coordenador ressalta que vai ser importante ter a compreensão que os alunos, que fizeram a escolha de área ao entrar no primeiro ano do Ensino Médio, podem mudar de ideia ao longo da trajetória escolar.

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André Freitas, gerente de projetos pedagógico do Sistema de Ensino pH, afirma que, apesar das dúvidas e inseguranças com a novidade, existe uma boa expectativa, já que o Ensino Médio atual não é satisfatório e precisa começar a passar por mudanças. “Os dados mostram que é nesse segmento que o Brasil é menos eficiente. Temos muito mais evasão e baixo número de aprendizagem do que nas outras categorias, que já melhoraram. Não dá para ficar parado”, afirma.

A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad) mostrou que garantir que os jovens brasileiros permaneçam na escola nos anos finais do Ensino Médio é o principal desafio para que o Brasil consiga universalizar o acesso à educação básica. Segundo o levantamento, em 2018, 11,8% dos jovens na faixa etária dos 15 a 17 anos estavam fora da escola, o equivalente a 1,1 milhão de pessoas. 

Os desafios

Por outro lado, os dois especialistas explicam que a mudança não é um caminho simples e que, na prática, escolas, alunos e professores vão esbarrar em grandes obstáculos. Um dos maiores deles é a desigualdade, premissa que marca muitos aspectos do Brasil. Essa disparidade na hora de aplicar o novo currículo pode aparecer entre as redes pública e privada. E até mesmo dentro da rede pública, em que existem escolas com mais recurso do que outras, dependendo da localidade. “As desigualdades podem ser um grande empecilho para que a proposta como está escrita dê o resultado que indica”, observa Braga.

Segundo o Censo Escolar 2018, divulgado pelo Inep ano passado, o laboratório de ciências é encontrado em apenas 44,1% das escolas de Ensino Médio. Esse importante espaço de aprendizagem está presente em 38,8% das escolas de Ensino Médio da rede pública e em 57,2% na rede privada. Ainda em relação às dependências administrativas, a pesquisa revela que 83,4% das escolas federais têm o laboratório de ciências no Ensino Médio. 

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Outra grande preocupação tem relação com os professores e suas formações. Além das dificuldades de sempre desses profissionais, como jornada longa e salários baixos, com essa reforma eles vão precisar passar por uma adaptação que exigirá ainda mais. “As escolas precisam dar o auxílio para esses profissionais e ajudá-los a entender essa mudança e como eles devem fazer isso na prática”, conclui Freitas.

E o restante do Brasil?

Segundo balanço do Conselho Nacional dos Secretários da Educação (Consed), mais 14 estados já desenvolveram suas propostas de currículo e estão submetendo o texto à consulta pública. Entre eles, Acre, Alagoas, Amapá, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Roraima, Santa Catarina e Sergipe. Os demais estados ainda estão elaborando o documento.

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Depois da consulta pública, o texto poderá ter correções e ,então, será encaminhado para a aprovação do Conselho Estadual de Educação, como aconteceu em São Paulo.

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