Assine Guia do Estudante ENEM por 15,90/mês
Continua após publicidade

Entenda as causas do conflito na Síria

Guerra civil tem origens que passam pela Primavera Árabe, no Oriente Médio e na África, e por outros episódios do complexo contexto geopolítico da região

Por Paulo Victor Chagas - Repórter da Agência Brasil
Atualizado em 14 Maio 2019, 16h56 - Publicado em 13 abr 2017, 17h47
O conflito na Síria eclodiu em meio à Primavera Árabe, mas ainda não teve um desfecho
 (Agência Brasil/Reprodução)
Continua após publicidade

Com seis anos recém-completados, a guerra civil na Síria tem origens que passam pela Primavera Árabe, no Oriente Médio e na África, e por outros episódios do complexo contexto geopolítico da região. Mais de 400 mil mortes e cinco milhões de refugiados depois, o país passa por um dos seus momentos mais delicados, em meio ao aumento da tensão após bombardeios dos Estados Unidos a uma base aérea síria na última quinta-feira (6).

Os desdobramentos do conflito, que já causam impactos internacionais, podem ser agravados após a ofensiva norte-americana em reação a um ataque com armas químicas ocorrido dias antes.

Entenda os interesses envolvidos no conflito da Síria, a importância da localização do país, as causas e as principais consequências da guerra civil:

Primavera Árabe

A sequência de revoltas populares ocorridas em diferentes países contra regimes ditatoriais e em busca de melhorias sociais para a população teve início em 2010. A começar pela Tunísia, os governantes de nações como Egito, Líbia, Iêmen, Bahrein, Jordânia e Angola presenciaram levantes em suas cidades, da mesma forma como ocorreu na Síria. Apesar de reconhecer que a repressão violenta dos protestos pelo ditador sírio Bashar al-Assad na ocasião tenha fortalecido a oposição, o professor de Relações Internacionais Jorge Mortean alerta que, lá, a visão de democracia é diferente da ocidental.

“Um sírio nunca colocou um papelzinho numa urna, assim como um saudita e um iraquiano (antes da invasão norte-americana, em 2003). Esses países milenarmente foram impérios. A democracia é uma construção social prática, vai se dando aos poucos. Os anseios do povo sírio são outros, o desenrolar da guerra civil foi totalmente diferente do que aconteceu na Primavera Árabe”, analisa Mortean, doutorando em Geografia Política pela Universidade de São Paulo.

O governo de Bashar al-Assad, que, diferentemente de seus vizinhos, não se aliou às principais potências ocidentais, já era visto com ceticismo pelos extremistas muçulmanos. Os radicais acreditam que o atual regime não defende as tendências islâmicas de seu interesse, e com isso fomentaram a criação de grupos armados de oposição, que passaram a ser financiados por outros países.

Continua após a publicidade

Terrorismo

Chocando o mundo com imagens de decapitações e assumindo autoria de ataques ocorridos nos últimos anos em grandes centros mundiais, o Estado Islâmico (EI) é o principal grupo terrorista em território sírio. Os rebeldes armados chegaram a ocupar províncias importantes do país, propagando o terror ao sequestrar pessoas, destruir patrimônios culturais e prédios da região.

Desde o ano passado, as tropas governamentais têm reconquistado algumas cidades que estavam sob o controle do EI, como Khanaser, Palmira e Aleppo. Rebeldes curdos e integrantes de outros grupos como a Frente al-Nusra também fazem parte da oposição ao regime sírio. Apoiado pelos Estados Unidos e outros países do Ocidente, um plano de transição política para o país foi proposto em setembro passado pelo Alto Comitê de Negociações da Síria, que engloba 30 facções políticas e militares.

Segundo Mortean, os grupos terroristas, interessados em derrubar al-Assad, são financiados por países como Arábia Saudita e Qatar e contam com o aval “tecnológico e financeiro” de França e Estados Unidos.

“Na verdade, toda essa guerra é só um mote para tirar o Bashar al-Assad. O povo sírio nunca experimentou a democracia. Por que a Síria, que está com regime dos Assad desde 1970, está incomodando agora? Por interesses próprios e de terceiros, há uma série de erros estratégicos devido aos quais a guerra ainda não acabou”, avalia o professor.

Continua após a publicidade

O diretor do Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense, Eurico de Lima Figueiredo, faz uma análise semelhante. Segundo ele, a posição estratégica da Síria, saída importante para o Mar Mediterrâneo, é a maior razão da guerra, já que tem relação com a “geopolítica do petróleo”, classificada por ele como a “essência” dos conflitos no Oriente Médio.

Bashar al-Assad é filho de Hafez al-Assad, que governou a Síria entre 1970 e 2000. Há 17 anos no poder, o atual ditador foi reeleito em 2014 para um novo mandato de sete anos, nas primeiras eleições com mais de um candidato ocorridas no país em mais de meio século. O pleito, no entanto, foi considerado uma “farsa” pelos opositores.

Estados Unidos e Rússia

Embora o presidente norte-americano Donald Trump tenha flertado com os russos durante a campanha que o levou ao poder, os acontecimentos recentes podem colocar em conflito as duas potências. Desde o início da guerra, a Síria tem o apoio do presidente russo Vladimir Putin, que repudiou o lançamento dos 59 mísseis contra a base militar síria na última semana.

O ataque foi uma resposta de Trump à ação com armas químicas no começo da semana, que deixou mais de 80 mortos, centenas de feridos e cuja autoria ainda é incerta. Para Figueiredo, que é professor de relações internacionais e assuntos estratégicos, os novos confrontos trazem a possibilidade de um conflito direto entre os Estados Unidos e a Rússia.

Busca de Cursos

Continua após a publicidade

“Os dois países, depois de muitas desavenças, chegaram à conclusão de que a solução para o conflito passa por Bashar al-Assad. Depois do Iraque, os Estados Unidos aprenderam que quando se tira um governante forte, o que vem depois é pior. Então chegaram à conclusão de que é melhor combater o Estado Islâmico juntos. No entanto, eles não bombardeiam com a contundência necessária para acabar com o grupo.”

Para o analista, Trump acredita que as armas químicas foram lançadas pelos sírios e ordenou o bombardeio como um “recado a Assad de que ele não pode fazer o que quiser”.

Vítimas da guerra

Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), cinco milhões de sírios deixaram sua terra natal e hoje vivem em países como Egito, Iraque, Jordânia, Líbano e Turquia. Parte deles conseguiu cruzar as fronteiras com a Europa. Na América Latina, o Brasil é um dos destinos mais procurados pelos cidadãos que fogem da guerra civil.

Somente no território sírio, mais de 13 milhões de pessoas precisam de assistência emergencial, segundo a Acnur. Já a Anistia Internacional, que produz frequentes relatórios denunciando crimes contra a humanidade cometido por todos os lados do conflito, aponta outro dado alarmante. Com base no enviado da Organização das Nações Unidas para a Síria, a entidade revela que o número de mortos já passou de 400 mil desde o começo do conflito.

 

Publicidade

Entenda as causas do conflito na Síria
Atualidades, Estudo
Entenda as causas do conflito na Síria
Guerra civil tem origens que passam pela Primavera Árabe, no Oriente Médio e na África, e por outros episódios do complexo contexto geopolítico da região

Essa é uma matéria exclusiva para assinantes. Se você já é assinante faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

MELHOR
OFERTA

Plano Anual
Plano Anual

Acesso ilimitado a todo conteúdo exclusivo do site

a partir de R$ 15,90/mês

Plano Mensal
Plano Mensal

R$ 19,90/mês

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.