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Entenda a guerra tarifária de Trump para o Enem e vestibulares

Presidente dos Estados Unidos taxa produtos brasileiros e alega falta de democracia em nosso país

Por Paulo Zocchi
31 out 2025, 15h00
trump
 (Pixabay/Wikimedia Commons/Lucas Silva/Guia do Estudante/Reprodução)
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Como professores e estudantes já imaginavam, a guerra tarifária de Donald Trump não demorou a aparecer nos vestibulares deste ano. Logo na primeira fase da Unicamp 2026, candidatos já se depararam com uma questão de Inglês que tinha como pano de fundo as tarifas e o aumento da inflação nos Estados Unidos. A questão exigia mais conhecimento do idioma do que da atualidade em si, mas quem dominava o assunto certamente pôde responder com mais segurança. Para as próximas provas, vale a pena relembrar o início da guerra de tarifas – e como a reação do Brasil chamou a atenção do mundo todo.

Trump declara guerra comercial ao Brasil

O presidente norte-americano Donald Trump
(Wikimedia Commons/Reprodução)

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, declarou guerra comercial ao Brasil, impondo tarifas de 50% para produtos brasileiros a partir de 6 de agosto de 2025. Como os EUA são o principal destino das exportações brasileiras, a decisão causa forte impacto em setores da economia brasileira – afetando de início a rentabilidade de negócios, e podendo atingir o nível de emprego dos brasileiros.

Entre os produtos de exportação afetados, estão café, carne bovina, ferro, aço, frutas, pescados, calçados, roupas, componentes eletrônicos, entre muitos outros. A decisão de Trump significa, na prática, o seguinte: um importador norte-americano que paga 100 dólares por um produto brasileiro, tem de pagar mais 50 dólares de imposto quando o produto chega na alfândega dos Estados Unidos (EUA). E um importador de café, por exemplo, ao pagar 50% a mais pelo produto vindo do Brasil, terá certamente de vender o produto mais caro a seus clientes. O resultado imediato tem sido inúmeros negócios cancelados. No primeiro mês de vigência, houve uma redução de 20% nas exportações nacionais para os EUA.

+ Quais são os outros parceiros comerciais do Brasil?

O Brasil não está sozinho nessa briga. Desde que iniciou seu segundo mandato presidencial, em 20 de janeiro de 2025, Trump tem provocado uma forte turbulência global, com sua maneira agressiva e, por vezes, inesperada, de atropelar as relações internacionais com atitudes, de seu ponto de vista, em defesa dos interesses dos EUA. “America first”, ou “Em primeiro lugar, os EUA”, é um de seus lemas.

A China, que se tornou o principal país exportador do mundo há mais de dez anos (deixando os EUA em segundo lugar), é seu alvo preferencial: anunciou tarifas de 100% (ou seja, a taxação é igual ao valor total de cada mercadoria) para produtos chineses a partir de 1º de novembro de 2025. “Estamos em guerra comercial com a China”, declarou, em 15 de outubro. Mas a artilharia é geral: Trump já elevou (ou ameaçou elevar) as taxas de importação de produtos vindos de seus parceiros próximos Canadá e México, de países europeus, africanos e asiáticos. Em situações de guerra, como a da Ucrânia, atua em busca de vantagens comerciais, como o acesso a minerais raros no subsolo ucraniano.

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+ A longa história por trás da Guerra Comercial entre EUA e China

Pretexto político

Da esquerda para a direita Mark Zuckerberg, CEO da Meta; Lauren Sanchez, Jeff Bezos, fundador da Amazon; Sundar Pichai, CEO da Alphabet; e Elon Musk, CEO da Tesla e X., durante a posse de Donald Trump, em 20 de janeiro
Da esquerda para a direita Mark Zuckerberg, CEO da Meta; Lauren Sanchez, Jeff Bezos, fundador da Amazon; Sundar Pichai, CEO da Alphabet; e Elon Musk, CEO da Tesla e X., durante a posse de Donald Trump, em 20 de janeiro (Julia Demaree Nikhinson/Getty Images)

Ao justificar a taxação contra os produtos brasileiros, no início de julho, Trump afirmou que era uma medida ligada à defesa da democracia no Brasil, que estaria sendo violada com o processo criminal e a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e da cúpula militar pela Justiça. O governo norte-americano acionou também uma lei do país (Lei Magnitsky) para sancionar o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), bem como revogou o visto de entrada de oito dos 11 ministros do STF, além de outros sete integrantes do Judiciário nacional.

+ O que é anistia?

Essas atitudes caracterizam uma agressão à soberania nacional do Brasil. Quando um país proclama sua independência (no nosso caso, em 1822), declara a sua soberania para decidir sobre as suas instituições de Estado, para fazer e aplicar leis, para defender suas fronteiras, para conduzir as políticas internas e externas da nação. As relações internacionais estão baseadas no respeito mútuo dos países pela soberania dos demais. Portanto, o presidente dos EUA não tem o direito de contestar uma decisão da Justiça brasileira e adotar medidas contra o país para tentar chantagear e modificar a decisão tomada.

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O governo brasileiro reagiu de imediato. O presidente Lula declarou que o Brasil é um país soberano e não aceita ser tutelado por ninguém. Disse que o julgamento dos acusados de tentativa de golpe de Estado é atribuição exclusiva da Justiça brasileira, e que não seria aceita nenhuma ameaça ou ingerência externas nessa questão. Nas semanas seguintes, não houve negociação formal entre os países, mas o governo dos EUA retirou da lista centenas de produtos brasileiros antes de a taxação entrar em vigor.

Guerra comercial

Por baixo da cortina de fumaça das alegações políticas, Trump conduz, na essência, uma guerra comercial contra o Brasil. Parece um contrassenso, já que o comércio entre os dois países é muito favorável aos norte-americanos: desde 2009, os EUA exportam para o Brasil mais do que importam daqui. Ou seja, são 15 anos de comércio superavitário para os norte-americanos em relação ao Brasil.

Acontece que Trump quer ainda mais. O Brasil também tem terras raras – importantes para as empresas de tecnologia –, bem como matérias-primas cobiçadas, como petróleo e ferro, e um grande mercado consumidor. Além disso, o presidente dos EUA já expressou seu desagrado com a possibilidade de as empresas de tecnologia – as chamadas “big techs”, como Google e Facebook, que hoje dominam o mercado mundial de informação – terem sua atuação no Brasil reguladas por lei nacional, ou sofrerem taxações, questões que estão em debate no Congresso brasileiro. Em suas palavras, qualquer regulação nacional a essas empresas norte-americanas é “censura” ou atentado à “liberdade de expressão” de cidadãos ou empresas dos EUA.

Chamam a atenção, ainda, as referências críticas de Trump ao Brics, grupo de países reunindo Brasil, Rússia, Índia e China, entre outros. Ele teme as aproximações políticas e econômicas entre os membros do grupo, e ameaça com mais tarifas o que chama de “políticas antiamericanas”.

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+ Afinal, o que é superávit e déficit na balança comercial?

Um pouco de história

BROWNSVILLE, TEXAS - NOVEMBER 19: U.S. President-elect Donald Trump attends a viewing of the launch of the sixth test flight of the SpaceX Starship rocket on November 19, 2024 in Brownsville, Texas. SpaceX’s billionaire owner, Elon Musk, a Trump confidante, has been tapped to lead the new Department of Government Efficiency alongside former presidential candidate Vivek Ramaswamy.

Trump chega de novo à Presidência em 2025 num cenário de crises, impasses e desafios colocados para seu país. Mudanças profundas estão ocorrendo, após algumas décadas de relativa estabilidade (veja também o texto sobre a história norte-americana a seguir).

Os Estados Unidos emergiram da 2ª Guerra Mundial como a principal potência entre as economias de mercado, em contraponto ao bloco comunista, liderado pela União Soviética (período da Guerra Fria). Durante os seis anos do conflito (1939-1945), desenvolveram sua indústria e reforçaram sua superioridade econômica sobre os demais países. Fundaram e assumiram a liderança das instituições multilaterais, como a ONU (Nações Unidas), o Banco Mundial e o FMI (Fundo Monetário Internacional). O dólar norte-americano passou a ser a moeda de referência do mercado internacional.

O fim da Guerra Fria, com a queda do Muro de Berlim (1989) e dos regimes ligados à URSS, abre a fase da globalização, com um avanço na internacionalização das economias e um grau superior de interligação do mercado mundial, com o advento da internet. Passamos a viver numa era em que se espalham pelo mundo as empresas multinacionais – cujos controles, em geral, estão nas nações ricas –, e suas linhas de produção migram para países nos quais os custos são mais baratos. Os EUA sofrem um esvaziamento industrial, e as linhas de montagem de inúmeros produtos passam por diferentes países, e até por diferentes continentes.

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A crise econômica global aberta em 2008 expõe limites da economia globalizada, dominada pelo capital que circula na esfera financeira, sempre em busca de alta rentabilidade. A exposição a riscos excessivos acaba levando a uma falência em cascata de bancos, com grande repercussão mundial. Desde então, a economia mostra dificuldades para manter o crescimento, e há um aperto geral nos gastos públicos dos países.

Nos EUA, a estagnação econômica associada a uma crise no emprego leva a um descontentamento social crescente, com grande repercussão política. Trump se apresenta, em 2015, na disputa para ser o candidato do Partido Republicano às eleições presidenciais, apenas três anos após ingressar no partido, e sem nunca ter disputado uma eleição. Chega como um nome muito conhecido por ser um bilionário com um programa de TV bem popular (“O Aprendiz”). Torna-se candidato do partido derrotando políticos experientes e suas principais lideranças.

Apresentando-se como alguém de fora da política, Trump derrota a candidata do Partido Democrata, a senadora Hillary Clinton, com margem estreita. Seu primeiro mandato foi marcado pelo endurecimento contra a imigração nos EUA, por uma postura internacional isolacionista – esvaziando a participação em fóruns multilaterais –, pelo crescimento do racismo e da xenofobia (hostilidade contra estrangeiros) no país e pelo fim de políticas contra o aquecimento global. No final, tendo perdido a eleição para a sua sucessão, teve uma posição de conivência com a invasão do Congresso dos EUA (Capitólio) em 6 de janeiro de 2021 (ato pelo qual sofreu um processo, cujo andamento acabou interrompido por sua nova eleição à Presidência).

+ O que o filme “Pecadores” revela sobre a história dos Estados Unidos

Segundo mandato

Por tudo isso, Trump acaba sendo um presidente disfuncional, com uma vocação autoritária indisfarçável, que aguça os conflitos internos. Neste segundo mandato presidencial, as características do primeiro são reforçadas. A “caça” aos imigrantes (ilegais e até legais) feita nas ruas, escolas e mercados pela polícia migratória (chamada de “ICE”) é de uma brutalidade inédita. Boa parte desses imigrantes são apenas trabalhadores – na construção civil, nas fábricas, nas fazendas e nas residências –, que vieram aos EUA para melhorar de vida e fazem parte constitutiva da mão-de-obra que move o país.

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Muitos foram presos levando filhos na escola ou fazendo compras no mercado. Nos primeiros seis meses de mandato, houve mais de 200 mil deportações, outras 60 mil pessoas estavam na prisão, e tudo indicava que a situação tendia a se agravar. Em reação, protestos com centenas de milhares de pessoas vem acontecendo em várias partes do país.

Trump reage colocando tropas especiais (guarda nacional, agentes federais) nas ruas de cidades governadas por seus adversários do Partido Democrata, alegando também o combate à criminalidade. A temperatura interna está alta, e tudo converge para um forte embate nas eleições de meio de mandato, que ocorrem em 3 de novembro de 2026 – e renovam 100% da Câmara e 1/3 do Senado dos EUA, hoje controlados pelos republicanos.

+ 3 direitos das mulheres que estão ameaçados no governo Trump

Na política externa, Trump mostra-se muito ativo. Seus anúncios de supertaxação a produtos estrangeiros partem da retórica de proteger a produção e os empregos nos Estados Unidos, mas são as próprias empresas norte-americanas que, para rentabilizar suas atividades, espalharam suas fábricas pelo mundo.

Além da eficácia duvidosa – pois as causas econômicas profundas do atual cenário não podem ser revertidas pela simples vontade de um governo, por mais poderoso que seja –, as medidas causam efeitos perversos no cotidiano dos norte-americanos, como a alta da inflação, a redução do comércio e as dificuldades com mão-de-obra, desagradando até parte do empresariado.

No atual momento conturbado do mundo, Trump aparece bastante. Foi o pivô de um cessar-fogo entre Israel e palestinos, que, em meados de outubro, apontava para o fim do conflito. Empenhava-se também para pacificar a guerra Rússia-Ucrânia, buscando estancar a aproximação entre russos e chineses.

Ao mesmo tempo, porém, ampliava as ações armadas e as ameaças contra a Venezuela, país da América Latina que detém as maiores reservas de petróleo do mundo. Em 15 de outubro, confirmou que havia dado ordens à CIA (central de inteligência) para adotar medidas contra o presidente venezuelano Nicolas Maduro, acusado por Trump, sem provas, de chefiar um cartel de drogas. O mar do Caribe, que banha a Venezuela, já abrigava embarcações de guerra dos EUA, estacionadas em águas internacionais. Registre-se que o último conflito na América Latina com algum país de fora foi a Guerra das Malvinas, entre Argentina e Reino Unido, há mais de 40 anos (1982).

Neste panorama convulsionado, os países vão agindo segundo suas possibilidades. Em 16 de outubro, o chanceler brasileiro Mauro Vieira encontrou o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, na primeira reunião formal de negociação entre os países desde o anúncio do tarifaço contra o Brasil. Oficialmente, na reunião só foram tratados temas estritamente comerciais. Bom sinal. A partir de sua força política e econômica, Trump impôs uma realidade de forma unilateral e levou o Brasil a negociar. Pela internet, TV e jornais você poderá acompanhar, nos próximos meses, a evolução destas conversas. Neste momento, parece improvável que tudo volte a ser como antes.

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