Coronavírus no Brasil: como a pandemia prejudica a educação
Do ensino básico ao superior, a ampliação do Covid-19 traz consequências educacionais, entre elas, o reforço da desigualdade
No começo do mês, a Unesco, órgão da ONU para a educação e cultura, realizou a primeira contagem global da situação educacional impactada pelo novo coronavírus. No relatório, foram registrados quase 300 milhões de alunos afetados em 22 países de três continentes pelo fechamento de escolas devido à expansão do vírus. De lá para cá, os números cresceram e mais instituições de ensino ao redor do mundo suspenderam as aulas.
São Paulo, que tem o maior registro de casos e a maior rede pública de ensino do Brasil, por exemplo, vai fazer uma paralisação gradativa das aulas até 23 de março. Instituições de nível superior, particulares e públicas, em sua maioria, também suspenderam as aulas. É evidente que a pandemia tem afetado todos os setores, inclusive a educação. E, diante disso, nos perguntamos: quais são os impactos para os alunos, professores e todos envolvidos?
O professor e especialista em gestão pública Renato Casagrande diz que ainda é preciso estudar mais a dimensão do problema e o impacto depende do tempo, se vai ter um agravante do surto ou não. “Tivemos como experiência o surto da influenza H1N1, há 11 anos, que suspendemos as aulas e, depois, foi necessário prorrogar o período de suspensão”. Ele exemplifica qual seria um agravante na situação no caso do Covid-19: “O verão está acabando e temos outono e inverno pela frente, e o vírus se fortalece em períodos mais frios. Tememos uma piora no cenário atual”.
Com as suspensão das aulas, muito se fala do uso das tecnologias para ensino e aprendizagem como uma forma de reparação dos danos aos alunos. Aulas a distância e plataformas digitais são mais palpáveis quando se trata de ensino superior, já que muitas faculdades já usam diferentes mídias. “Na educação básica, o problema é um pouco maior, porque as escolas não estão preparadas e rapidamente devem encontrar uma forma de introduzir e se adaptar às novas tecnologias. Mas não é impossível”, ressalta Casagrande.
Além disso, na educação infantil e no ensino fundamental, do 1º ao 5º ano, é muito difícil as crianças trabalharem sozinhas, elas precisam de acompanhamento e tutoria. O ensino a distância da maneira que conhecemos não é possível.
Fora da escola, mais um problema: para medidas tecnológicas serem efetivas todos os alunos precisam do acesso à internet. Infelizmente, essa não é a realidade brasileira. Segundo a Pesquisa TIC Domicílio, realizada em 2018, mais de 30% das casas não têm nem sequer acesso à internet, em geral as mais pobres.
“Essa questão vai acentuar a diferença de classes. A rede privada vai encontrar algumas soluções que demandam recursos financeiros, o que, para a escola pública, é muito mais difícil. Assim, os alunos do sistema público devem sentir mais os impactos”, conclui o professor.