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Como guerras atuais aparecem nos vestibulares

Além da Guerra na Ucrânia, veja como estudar as tensões que têm ocorrido ao redor do mundo

Por Juliana Morales
Atualizado em 30 set 2022, 11h29 - Publicado em 29 set 2022, 18h38
Confronto em Gaza
A região de Gaza é constante palco de conflitos  (hosny_salah/Pixabay/Reprodução)
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O estudante que está ligado no noticiário tem acompanhado, diariamente, os desdobramentos da Guerra na Ucrânia. As consequências sociais, políticas e econômicas do conflito, entre elas a questão energética, têm impactado o mundo todo. Mas e os vestibulares diante desse cenário? Como as provas podem tratar dessa e de outras guerras em andamento?

De prontidão, o professor de Geografia e Atualidades do Anglo, Sebastian Alvarado, esclarece que os vestibulares não costumam abordar um conflito em si, como tema central de uma questão, mas sim o contexto geopolítico dele. Isso significa que as provas buscam avaliar se o estudante é capaz de identificar quais são as origens e motivações de rivalidade entre dois ou mais países e como isso pode desencadear em uma guerra de fato.

Recentemente, vimos uma escalada nas tensões entre China e Taiwan, com envolvimento dos Estados Unidos como agravante. As provas, no entanto, não exigiriam do candidato informações recentes sobre o caso, mas possivelmente perguntaria a respeito de suas origens – que, neste caso, remontam ao contexto da Revolução Chinesa.

Fora a circunstância histórica, vale ficar atento aos aspectos religiosos, étnicos, políticos, econômicos e geográficos que podem estar em disputa. Isso vale para todos os casos de conflitos em âmbito internacional.

Por último, uma informação para respirar aliviado: informações pontuais, como o número de mortos na guerra ou qual presidente falou uma frase polêmica sobre o conflito nunca vão ser cobradas, pontua o professor. Ou seja, nada de decoreba sobre dados. 

O que há de comum entre todos os conflitos

Na análise do contexto geopolítico, é importante pensar nos interesses essenciais comuns a todos países. Segundo Sebastian, são eles: a energia, a matéria-prima tanto para finalidade industrial como bélica, e o escoamento de produção – ou seja, como o país vai distribuir para o restante do mundo seus produtos e, assim, conseguir vantagens econômicas.

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gás natural na Rússia
Instalações de armazenamento de gás natural próximo da Alemanha. O país é um dos que buscam alternativas ao gás russo, diante da Guerra na Ucrânia. (Stringer/Getty Images)

Além desses, ainda existe um aspecto defendido por qualquer país: a integridade territorial. “Toda nação quer manter o seu território do mesmo tamanho e evitar movimentos que incitem o separatismo na sua região”, explica o professor.

O conselho de Sebastian é que o estudante dê atenção a esses quatro pilares – energia, matéria prima, escoamento e território – na hora de pesquisar sobre qualquer país ou tensão internacional. A compreensão desses interesses nacionais, compartilhado por todos, também pode ajudar a fugir da dicotomia entre a “nação boazinha” e a “nação vilã” e fazer uma análise muito mais aprofundada sobre rivalidades e lutas armadas.

O que as provas cobram sobre guerras

Outra exigência dos vestibulares ao tratar de guerras é o conhecimento da localização. De acordo com o especialista, o estudante precisa ser capaz de identificar o centro do conflito dentro de um mapa e, a partir disso, analisar quais são os países vizinhos desses que estão em guerra e se o conflito pode se espalhar ou não. 

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Um caso recente pode exemplificar como se dão os desdobramentos ao redor de uma luta armada. Em resposta à invasão da Ucrânia pela Rússia, em maio de 2022, a Finlândia e a Suécia, que também estão bem próximos do território russo, entraram no processo de adesão à Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) . Os pedidos para entrada na aliança militar ocidental envolve atores internacionais importantes como os Estados Unidos e outros países-membros da Otan. Esse caso pode ter outros desdobramentos, que os alunos devem ficar atentos.

Outro aspecto na linha das consequências que merece atenção dos candidatos é a questão dos refugiados. “O aluno deve olhar para o número de pessoas que precisaram fugir do seu país por falta de condições de saúde, alimentícias e de segurança e também olhar no mapa, mais uma vez, e pensar quais países têm maior probabilidade de receber esses refugiados e como eles vão ser acolhidos ou não nesse novo ambiente”, explica o professor de Geografia.

Como Rússia e a Ucrânia já caíram no vestibular

Em 2022, uma questão da segunda fase da Unicamp tratou da importância do Mar Negro para a Rússia, a partir do episódio de disputa pela Crimeia, em 2014. “A banca não queria saber sobre o conflito da anexação da Crimeia. O aluno, a partir do conhecimento geográfico, deveria explicar qual é o interesse sobre o Mar Negro”, explica o professor Sebastian.

Questão da Unicamp 2022

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Veja a resolução da questão acima feita pelos professores do Anglo neste link

Como conflitos internacionais aparecem no Enem

O caso do Enem é ainda mais específico, já que a prova é feita com bastante antecedência a partir de um banco de questões previamente aprovado. É possível, por exemplo, que a prova trate da questão do mar do sul da China, mas, segundo o professor, o exame não questionará sobre um possível conflito entre o país e Taiwan. 

A tendência é que o exame trate de conflitos que tenham raízes mais antigas, como é o caso da Guerra na Síria, que teve início em 2011 com a Primavera Árabe, uma onda de manifestações populares contra governos autoritários que se espalhou por países do Norte da África e do Oriente Médio.

A cidade de Raqqa, na Síria, sofreu um grande impacto durante a guerra no país, quando chegou a ser controlada pelo Estado Islâmico
A cidade de Raqqa, na Síria, sofreu um grande impacto durante a guerra no país, quando chegou a ser controlada pelo Estado Islâmico. (Mahmoud Bali - VOA/Wikimedia Commons)
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Na Síria, especificamente, os protestos ocorreram contra o governo de Bashar al-Assad, no poder desde 2000 e membro de uma família que governa o país há décadas. Quando a pressão popular intensificou-se, o presidente reagiu reprimindo as manifestações com violência militar. Ele também acusava a existência de milícias rebeldes e mercenários entre os civis tentando um golpe de Estado. Não demorou muito para que uma guerra civil envolvendo também outras nações tomasse o país, com o envio de recursos financeiros, armas e até mesmo soldados estrangeiros. 

Quais conflitos estudar

Apesar de mobilizar as atenções do mundo todo, a Guerra na Ucrânia está longe de ser a única que devasta cidades e populações na atualidade. O professor Sebastian chama a atenção para a disparidade entre a cobertura da mídia de conflitos envolvendo países subdesenvolvidos em comparação a guerras com países mais ricos. Também é perceptível que conflitos que ocorrem em sociedades brancas costumam ser muito mais alardeados do que aqueles que envolvem sociedades negras. “Podemos alegar que isso é um reflexo de um uma construção de narrativa racista e xenofóbica”, diz o professor.

Homem no Iêmen carregando arma
Um apoiador houthi carrega uma arma durante um protesto contra os EUA e a Arábia Saudita pedindo o fim da guerra no Iêmen. (picture alliance / Colaborador/Getty Images)

Ele explica que o vestibular não vai cobrar uma guerra que é de conhecimento muito restrito, mas existem conflitos que quase não têm espaço no noticiário e que os estudantes devem ficar atentos. É o caso da Guerra do Iêmen, o conflito muito antigo entre Israel e Palestina e as tensões em Mianmar.

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+ Além da Ucrânia: livros para entender outras guerras que estão acontecendo

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