Como a língua portuguesa do Brasil é atravessada pela imigração
Imigrações do século 19 e 20 mudaram para sempre a forma como se fala português no país
A história de uma língua carrega muito da história de seus falantes. A língua portuguesa do Brasil, por exemplo, foi resultado da colonização portuguesa e sofreu grande influência das línguas indígenas e africanas. Mais tarde, imigrantes das mais diversas origens também criaram raízes no país, incorporando novos traços linguísticos ao modo de falar o português daqui.
Neste 10 de junho, Dia da Língua Portuguesa em Portugal, o GUIA DO ESTUDANTE propõe a discussão sobre como a língua falada no Brasil foi – e ainda é – atravessada pelos deslocamentos humanos. Para isso, vamos ter que voltar um pouco na História.
Imigração para o Brasil no século 19 e 20
Em 1880, o Brasil tornou-se o maior produtor de café do mundo. Com a iminência da abolição da escravidão, os grandes proprietários rurais brasileiros buscavam mão de obra barata para substituir os escravizados. Junto a essa necessidade, também existia um movimento, fundado no preconceito das classes dominantes brasileiras de promover o “branqueamento” da população nacional, majoritariamente negra.
Com uma política de apoio e financiamento à imigração, trabalhadores europeus e asiáticos chegaram ao Brasil. Muitos deles vieram para cá por não terem condições de permanecer em seus países por dificuldades econômicas, conflitos étnicos ou guerras. Outros tinham o desejo de melhorar de vida e viam a emigração como solução.
Em termos quantitativos, portugueses, italianos, espanhóis, japoneses e alemães constituíram os principais fluxos entre meados do século 19 e a primeira metade do século 20. Foi assim que culturas, etnias, costumes e, claro, línguas muito diferentes foram se misturando por aqui.
Com a diversidade de idioma dos estrangeiros, a língua portuguesa do Brasil foi assimilando novas palavras e expressões. Um exemplo é a palavra “tchau”, vindo do italiano (ciao). No Brasil, a palavra é empregada em situações de despedida. Na Itália, ciao é uma saudação informal utilizada tanto na despedida como na chegada.
Século 21
Um levantamento do Observatório das Migrações Internacionais (OBMigra) em parceria do Ministério da Justiça e Segurança Pública aponta que, de 2011 a 2020, ocorreu um aumento de 24,4% no número anual de novos imigrantes registrados no Brasil. Em 2021, 1,3 milhão de imigrantes residiam no Brasil, segundo a pesquisa.
Os dados também mostram que o número de novos refugiados reconhecidos anualmente no país saiu de 86, em 2011, para 26,5 mil em 2020. As solicitações de reconhecimento da condição de refugiado também aumentaram, passando de cerca de 1,4 mil, em 2011, para 28,8 mil, em 2020.
Esse grande tema social do século 21 é tema da exposição temporária, Sonhei em português!, do Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo. A mostra, por meio de experiências visuais, audiovisuais e ambientes sonoros, trata como a experiência da imigração é atravessada pela questão da língua.
Em depoimentos apresentados em vídeos na exposição, imigrantes de várias nacionalidades contam suas histórias sobre os países de origem e o Brasil e também falam sobre como se relacionam com a língua portuguesa. As falas mostram que migrar não é um processo simples: questões econômicas, raciais, e inclusive linguísticas criam entraves para os estrangeiros.
Por outro lado, os relatos discutem como o encontro de culturas e línguas criou ambientes multifacetados, complexos e belos, como é o caso de São Paulo – uma cidade de imigrantes e com mais de 12 milhões de habitantes.
A exposição temporária Sonhei em português! fica em cartaz até junho de 2022 no primeiro andar do Museu. Mas, para quem quer saber mais sobre o tema, a exposição principal no segundo andar do museu faz uma abordagem histórica dos fluxos migratórios anteriores na construção do português falado no Brasil.
Serviço
Museu da Língua Portuguesa
Local: Praça da Luz, s/nº Centro, São Paulo – SP
Funcionamento: terça a domingo, das 9:00 às 16:30, com permanência até as 18:00
Sobre ingressos e mais informações, acesse o site do museu
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