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Chile: protestos pedem nova Constituição e igrejas são incendiadas

Desde outubro de 2019, manifestantes se reúnem por mais igualdade no país

Por Giulia Gianolla
Atualizado em 8 dez 2020, 17h59 - Publicado em 21 out 2020, 12h00
 (Wikimedia Commons/Lucas Silva/Guia do Estudante/Reprodução)
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Protestos violentos em Santiago, no Chile, nesta segunda-feira (19), marcam um ano desde o início das manifestações por melhores condições de vida no país. Igrejas incendiadas, confronto entre a população e a polícia e saques marcaram o dia, que acabou com 5 policiais feridos e 5 pessoas detidas.

Para entender esse ano de conflitos no Chile, o GUIA listou alguns pontos importantes.

O estopim

Vamos voltar no tempo para outubro do ano passado, antes de o coronavírus ser uma preocupação, quando ainda eram permitidas aglomerações em todo o mundo. O governo do presidente Sebastián Piñera anunciou que seriam acrescentados 30 pesos na tarifa do metrô (equivalente a 20 centavos do real).

O aumento causou revolta em grande parte da população, que reuniu cerca de um milhão de pessoas nas ruas no maior ato desde a ditadura no país. Manifestantes forçaram a entrada nas estações de metrô, quebraram vidraças, semáforos, queimaram ônibus e estabelecimentos. O movimento lembra bastante os protestos de julho de 2013 no Brasil, que também começaram por um aumento na tarifa de ônibus em São Paulo.

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Logo no início das manifestações, foi decretado estado de emergência por 15 dias e o Exército foi às ruas para conter a onda de ataques, cumprindo a Lei de Segurança de Estado, que permite restringir a liberdade de locomoção e reuniões. O governo suspendeu a alteração no preço da passagem depois de três dias, mas as manifestações não pararam. Nas ruas, os gritos de “basta de abusos” e “Chile acordou” se multiplicavam.

Não há uma lista fechada de demandas, mas as manifestações surgiram para exigir mudanças no sistema econômico do país, buscando mais proteção social. No Chile, o acesso à saúde e à educação é difícil e baseado principalmente no sistema privado. Além disso, de acordo com especialistas e manifestantes, a principal origem das desigualdades chilenas é a Constituição herdada da ditadura de Augusto Pinochet. Os protestos também buscam garantir uma nova Constituição.

Legado da ditadura de Pinochet

De 1973 até 1990, o Chile viveu uma ditadura sangrenta liderada por Augusto Pinochet. Em 17 anos sob o controle do general, os sindicatos entraram na ilegalidade e a estrutura de seguridade social foi privatizada. O país teve cerca de 3 mil mortes e mais de 40 mil torturados. Mesmo com tamanha violência autoritária, a economia chilena era considerada uma das mais saudáveis da América Latina nos anos de 1990, se comparada com as economias de outros países da região que enfrentavam crises e endividamentos.

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No entanto, a agenda neoliberal impôs à população um alto custo de vida que está sendo cobrado nos atuais protestos.

Em 1980, Pinochet outorgou uma Carta Magna com apoio de aliados da ditadura e sem uma consulta democrática. Mesmo após a redemocratização, o Chile não reformulou sua Constituição por completo. Desde que foi promulgada, foram mais de 200 alterações em 40 artigos. 

Motivações

Em 2019, em resposta à onda de manifestações, o governo anunciou uma série de propostas chamada “Nova Agenda Social”. Ela incluía medidas relacionadas a aposentadoria, acesso à saúde, melhores salários e administração pública mais eficaz. A proposta também tratava da redução do número de parlamentares e do limite à reeleição.

Em julho de 2020, houve não só manifestações – que mesmo durante a pandemia do coronavírus perduraram –, mas também uma assembleia na Câmara dos Deputados para revisar um sistema de pensões implantado ainda durante o governo de Pinochet.

A população pedia a aprovação de uma lei que autorizava o resgate de 10% da poupança de aposentadoria para enfrentar a crise econômica. Neste período, os panelaços se intensificaram e os protestos ficaram mais violentos.

 

Plebiscito e nova Constituição

Considerada a grande conquista da revolta social que movimentou o Chile a partir de outubro de 2019, o presidente Piñera realizou um plebiscito para decidir sobre a abertura de um processo constituinte, ou seja, um grupo para a elaboração de uma nova Constituição.

 “Queremos chamar, com grande entusiasmo, cada um dos nossos compatriotas a participar e votar no plebiscito do próximo domingo porque todas as posições e todas as opiniões contam e são importantes em uma democracia”, disse.

No domingo (25) o plebiscito deu a vitória do “aprovo” a nova Constituição, por 78,27%, contra 21,73% do “rejeito”. É o fim da Constituição vigente, herança de Pinochet

 

 

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