Na última semana, o ciclone Idai passou por Moçambique, Zimbábue e Malauí, no sudeste da África. Moçambique, o primeiro país a ser atingido, foi também o mais devastado. O número de mortes confirmadas está em 446. Além das centenas de casas destruídas, áreas alagadas e da falta de energia, uma outra preocupação das autoridades é a disseminação de doenças como o cólera.
O rastro de destruição e a dificuldade em lidar com os danos é uma marca recorrente dos países africanos atingidos por desastres naturais. Isso porque grande parte deles é socialmente vulnerável a esse tipo de acidente, de acordo com a edição 2018 do World Risk Index, estudo que mede os riscos que cada país corre com tragédias do tipo.
A pesquisa, desenvolvida pela Universidade Ruhr em Bochum, Alemanha, e pela Development Helps Alliance, uma união de ONGs alemãs, levantou que 13 dos 15 países com maior vulnerabilidade social a desastres climáticos são africanos. As regiões mais problemáticas estão no Sahel, zona de transição entre o Saara e as savanas, e nas áreas tropicais do continente — onde se localizam os três países devastados pelo Idai.
Por outro lado, países como Japão e Chile, embora tenham altos índices de exposição a esses desastres, figuram em posições mais baixas no índice, pois têm mais condições para lidar com isso. O Japão está no top 10 de maior risco e de menor vulnerabilidade.
A suscetibilidade, um dos fatores da pesquisa ligado à vulnerabilidade, diz respeito tanto a indicadores como saneamento básico, água potável e subnutrição, quanto a outros diretamente ligados à renda, como pobreza extrema e PIB per capita. Embora o peso de cada um desses varie de um país para outro, a suscetibilidade é particularmente baixa em países africanos, entre eles Moçambique. O país figura na posição 42 no ranking total, e apesar de o nível de exposição ser relativamente baixo (13,37), o de susceptibilidade alcança 64,91. Brunei, na Ásia, embora esteja em 8º e apresente uma altíssima exposição (52,71), tem um dos menores índices de susceptibilidade do mapeamento.
Por fim, a África também aparece com destaque em outras duas variáveis consideradas na pesquisa: a falta de capacidade de enfrentamento e a falta de capacidade de adaptação. Entre os cinco países com piores índices na primeira, dois ficam no continente (Chade e República Centro-Africana). Nessa variável levam-se em conta fatores como índice de percepção de corrupção e índice de Estados frágeis. Uma observação importante é que a maior parte dos países que figuram nessa lista passam ou passaram recentemente por uma guerra civil. Quanto à falta de capacidade de adaptação, o Níger lidera, especialmente por conta da baixa taxa de alfabetização e participação na educação.
As mudanças climáticas e os desastres na África
Segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM), o clima e o tempo são responsáveis por nove em cada dez desastres naturais na África. Embora o continente esteja longe de ser um dos maiores emissores de gás carbônico (alguns de seus países são inclusive classificados como “absorvedores”, por filtrarem a poluição da atmosfera), ela sofre muito com o aquecimento global e as mudanças climáticas.
Além das perdas humanas, esse tipo de desastre afeta profundamente também a economia do país atingido. No final do ano passado, o Escritório das Nações Unidas para a Redução do Risco de Desastres (UNISDR) divulgou um relatório que trazia números alarmantes: entre 1998 e 2017, países atingidos por desastres climáticos relataram perdas econômicas de US$ 2,2 trilhões. O chefe da UNISDR declarou, à época, que os resultados colocavam “uma grande ênfase na necessidade de reduzir as emissões de gases de efeito estufa”.
Além disso, autoridades e especialistas destacam cada vez mais a necessidade de países de alto risco se prepararem para antever e reduzir os danos dos acidentes. Em 2017, o Fórum Africa Hydromet reuniu mais de 500 autoridades para aperfeiçoar serviços de hidrometeorologia que ajudam a prever os desastres iminentes.
“O ciclone é mais um lembrete da necessidade de um maior e mais urgente investimento na redução de riscos de desastre baseada nos ecossistemas e na adaptação às mudanças climáticas, para reduzir o custo humano e financeiro dos desastres naturais. A gestão ambiental responsável, os impactos das mudanças climáticas e as respostas aos desastres estão intimamente ligados e exigem uma abordagem mais sistemática e abrangente para a gestão de riscos de desastre”, afirmou ontem a diretora regional da ONU Meio Ambiente para a África, Juliette Biao, a respeito do ciclone que passou por Moçambique, Zimbábue e Malaui.
O tema nas provas
Embora seja raro nos grandes vestibulares a cobrança de desastres ambientais específicos, as características e causas desses fenômenos já aparecem em algumas questões, como em uma do Enem de 2012 sobre terremotos. Ainda assim, é mais provável que você encontre questões sobre a interação humana com os desastres ambientais. A relação entre desastres climáticos e aquecimento global ou os impacto de deslizamentos de terra são exemplos de como essa relação é comumente cobrada.