Assine Guia do Estudante ENEM por 15,90/mês
Continua após publicidade

Afinal, quem foi Carlos Marighella?

Líder guerrilheiro morto em 1969 voltou a ser notícia com o filme biográfico de Wagner Moura. Conheça esse personagem polêmico da história brasileira

Por Taís Ilhéu
Atualizado em 17 jan 2023, 15h54 - Publicado em 19 fev 2019, 19h09

O guerrilheiro baiano Carlos Marighella (1911 – 1969), ou simplesmente Marighella, se tornou centro de diversas discussões sobre racismo, direitos humanos e violência  – tanto do Estado quanto de seus opositores. 

A fase em que atuou na luta armada durante a ditadura militar é a mais explorada da sua trajetória, o que faz com que muitos o classifiquem como terrorista. Existem, no entanto, muitos outros fatos importantes sobre sua vida, e menos explorados. Você sabia que a ditadura militar de 1964-1985 não foi a primeira que ele enfrentou? E que ele era político, escritor e poeta? 

Combate na Era Vargas

Carlos Marighella nasceu em Salvador, em 1911. Filho de Augusto Marighella, operário e imigrante italiano, e de Maria Rita do Nascimento, negra e filha de escravos, teve outros sete irmãos. O início na vida acadêmica, em 1929, quando ingressou na Escola Politécnica da Bahia para cursar Engenharia Civil, também foi a porta para seu ingresso na política e na militância.

Em 1934, enfrentou pela primeira vez a repressão por se opor ao que viria a se tornar, em 1937, o período ditatorial conhecido como Estado Novo, liderado por Getúlio Vargas. Foi preso depois de divulgar um poema em que criticava o interventor da Bahia, Juracy Magalhães, nomeado por Vargas.   

Em 1934, abandonou o curso de Engenharia e se mudou para o Rio de Janeiro, onde se tornou um militante profissional do PCB. Ele era responsável pela imprensa e divulgação do partido. Dois anos depois, foi preso pela segunda vez, agora já durante a ditadura de Vargas, e torturado sob as ordens de Filinto Müller, chefe da repressão. Ficou um ano preso e só foi liberado com a “macedada”, como ficou conhecida a ordenação do ministro da Justiça à época, José Macedo Soares, que determinou que os presos políticos fossem soltos.

Depois de um ano na clandestinidade, Marighella foi preso e torturado novamente em 1939, permanecendo, dessa vez, seis anos na prisão. Em 1945, com o fim do Estado Novo, ele foi beneficiado com a anistia e solto.

Continua após a publicidade

 

Atuação na política institucional

A passagem de Carlos Marighella na política formal foi bastante curta, durou menos de um ano. Em 1946, elegeu-se deputado federal constituinte pelo PCB baiano, mas, por ordens do então presidente Eurico Gaspar Dutra, o partido voltou à ilegalidade e seu mandato foi cassado.  

De volta à clandestinidade, ele ocupou diversos cargos na direção do PCB. Entre 1953 e 1954, viajou à China para conhecer de perto a Revolução Comunista no país.

 

Ditadura Militar

Em 1964, já depois do golpe, Marighella foi baleado e preso por agentes do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), órgão de repressão da ditadura, dentro de um cinema. Em 1965, foi liberado por uma ação judicial, mas decidiu abandonar a resistência pacífica e aderir à luta armada contra o regime militar. Naquele mesmo ano, escreveu A Crise Brasileira.

Depois de alguns anos divergindo do partido e desobedecendo orientações (como quando decidiu ir à primeira conferências da Organização Latino-Americana de Solidariedade, em Havana, e redigiu a obra Algumas Questões sobre a Guerrilha no Brasil), ele foi expulso do partido em 1967. Em 1968, ele fundou o grupo armado Aliança Libertadora Nacional (ALN).

Continua após a publicidade

A ALN se tornou a mais conhecida resistência armada à ditadura, participando de assaltos a bancos e do famoso sequestro do embaixador americano Charles Elbrick em conjunto com um outro grupo, o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8).

Marighella chegou a ser considerado o inimigo número um da ditadura militar brasileira e, com o endurecimento do regime, os esforços em torno de sua captura aumentaram. Até que em 4 de novembro de 1969, ele foi morto a tiros por agentes do Dops, em São Paulo.

Morte, anistia e memória

A emboscada coordenada por Sérgio Paranhos Fleury que resultou na morte do guerrilheiro foi montada a partir da informação de que ele mantinha contato com freis dominicanos em São Paulo. Alguns desses religiosos foram detidos e obrigados a marcar um encontro com Marighella na Alameda Casa Branca, nos Jardins. Chegando lá, foi surpreendido e morto a tiros. A ALN continuou suas atividades até 1974.

Em 2012, por meio da Portaria 2.780, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, oficializou a anistia post mortem de Carlos Marighella no Diário Oficial da União. O reconhecimento já havia sido atribuído a ele, no ano anterior, na Sessão de Julgamento da Caravana da Anistia, realizada em Salvador.

Continua após a publicidade

Embora tenha sido lembrado em filmes e algumas famosas canções (Um Comunista, de Caetano Veloso, e Mil Faces de Um Homem Leal (Marighella), dos Racionais MC’s), Marighella é um personagem relativamente pouco conhecido e debatido, assim como seus escritos.

Alguns deles estão disponíveis na internet, como o Algumas Questões Sobre as Guerrilhas no Brasil (1967)  e o Mini-Manual do Guerrilheiro Urbano (1969). Neste último, um dos mais famosos, ele detalhava técnicas de guerrilha urbana a serem empregadas contra regimes ditatoriais. As cópias do Mini-Manual circulavam em versões mimeografadas e fotocopiadas durante a ditadura militar.

 

FONTES Sites Memórias da Ditadura, Memorial da Democracia, Agência Brasil, Imprensa Nacional (Casa Civil Brasileira), Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (Fundação Getúlio Vargas)

Assine o Curso PASSEI! do GUIA DO ESTUDANTE e tenha acesso a todas as provas do Enem para fazer online e mais de 180 videoaulas com professores do Poliedro, recordista de aprovação nas universidades mais concorridas do país.

Publicidade

Publicidade
Afinal, quem foi Carlos Marighella?
Atualidades
Afinal, quem foi Carlos Marighella?
Líder guerrilheiro morto em 1969 voltou a ser notícia com o filme biográfico de Wagner Moura. Conheça esse personagem polêmico da história brasileira

Essa é uma matéria exclusiva para assinantes. Se você já é assinante faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

MELHOR
OFERTA

Plano Anual
Plano Anual

Acesso ilimitado a todo conteúdo exclusivo do site

a partir de R$ 15,90/mês

Plano Mensal
Plano Mensal

R$ 19,90/mês

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.